Intervenção de Joaquim Mesquita
Membro do Conselho Nacional

 

 

A Informação e a Comunicação

Caras e caros Camaradas,

Uma saudação a todos vós: membros do Conselho Nacional desta grande Central, Confederação Nacional dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional, a todos os Congressistas presentes neste XV Congresso e, através deles, a todos os que trabalham em Portugal. Não esquecendo nesta saudação, todos os que, com espírito militante, permitem a concretização e o bom funcionamento dos nossos trabalhos, por si só uma luta por melhores condições de trabalho e de vida.

Camaradas, se hoje nos reunimos em Congresso devemo-lo em grande parte à luta dos que nos precederam, cuja memória honra todos os trabalhadores.

Devemo-lo, também, à Revolução do 25 de Abril e à consagração dos direitos, liberdades e garantias na Constituição da República que dela resultou, e que garantiram o exercício, em liberdade, da actividade sindical.

Devemo-lo, ainda, à luta dos sindicatos que precedeu a Revolução de Abril, prestes a completar o seu quinquagésimo aniversário, e que contribuiu para o seu êxito.

É nossa tarefa manter viva toda esta memória e prestar-lhe a devida homenagem.

Honrar o passado é lutar, hoje, pelo presente e pelo futuro dos trabalhadores, mulheres e homens, a partir dos seus locais de trabalho, e na rua. Porque são esses os grandes palcos das nossas propostas e reivindicações, e que dão a voz ao povo, votado a uma informação minimalista, e por vezes distorcida, das suas iniciativas e lutas. Por isso as actividades sindicais há muito que deixaram de ter uma rubrica própria na comunicação social.

O principal objectivo deste patronato é o lucro, porque a sua concepção de jornalismo é mercantilista. A estratégia é de reorganizar e reestruturar os órgãos de comunicação social de modo a atingir uma forte concentração e construir monopólios, violando a CRP, através de aquisições e fusões, que vão deixando as redacções deficitárias de meios técnicos e humanos, impossibilitando-as de exercerem as suas tarefas de acordo com as melhores práticas jornalísticas.

Se em tempos era verdadeiro afirmar que o jornalismo constituía o “quinto poder”, a verdade é que esse poder está a ser cada vez mais capturado pelo capital e pelos grupos económicos, que pretendem formatar uma opinião pública que seja favorável e permeável aos valores do liberalismo, doutrina que é o suporte das plutocracias, genericamente designadas “democracias liberais”.

Os profissionais da comunicação social são as primeiras vítimas, confrontados com propostas de “rescisões amigáveis” que resultam em despedimentos mais ou menos forçados. Entretanto, a vergonha ficou de lado, e já se sucedem os despedimentos colectivos. Os que ficam vêem-se confrontados com vínculos contratuais precários, carreiras estagnadas e salários baixos. Não surpreende, por isso, que alguns jornalistas se vejam obrigados a trocar a sua paixão – o jornalismo – por outras profissões.

A todos os jornalistas, e profissionais da comunicação social, que vêm lutando pelos seus postos de trabalho e pela valorização da profissão, uma saudação solidária e fraterna. São eles, mulheres e homens, o garante de uma informação de qualidade: independente, imparcial e plural, rigorosa e verdadeira – objectivos nada fáceis de atingir quando os órgãos de comunicação social estão nas mãos de grupos económicos pouco preocupados com o rigor da informação.

A CGTP-IN continuará, de modo particular no Conselho de Opinião da RTP, a opor-se a tentativas de privatização – e afirma a necessidade de um serviço público de informação prestado por empresas públicas, como são a RTP e a Lusa, que garanta o exercício do jornalismo segundo as melhores práticas, no cumprimento do direito constitucional de informar e ser informado (Artº 38, nº5), que se apresente como um baluarte da defesa da liberdade e da democracia e, ainda, que sirva de referência aos órgãos de comunicação privados.

A estas empresas públicas devem ser garantidos os meios financeiros, técnicos e humanos capazes de garantir a necessária modernização tecnológica, onde a transição digital assume no presente especial relevo.

A nossa luta desenvolve-se em várias frentes.

O mundo do trabalho e as suas organizações precisam ser divulgadas. Cabe à CGTP-IN, e a nós – corpo desta grande organização – dar o necessário contributo, na medida em que a informação que transmite e veicula é credível.

É necessário planificar e gerir os conteúdos, tendo em conta os seus destinatários: os trabalhadores, a opinião pública e a comunicação social, particularmente os jornalistas, divulgando as nossas lutas e as causas que as legitimam, bem como as vitórias alcançadas.

Tempos de antena de Rádio e de Televisão, conferências de imprensa, entrevistas, artigos de opinião, comunicados, folhetos, imagens e vídeos, bem como o contacto directo com os trabalhadores… tudo deve ser conjugado e devidamente tratado de modo a resultar numa informação esclarecedora e mobilizadora, contrariando notícias falsas, ataques ideológicos e tentativas de desvalorização das lutas sindicais, e incentivos ao conformismo e à conciliação de classes.

Neste quadro, que vem sendo desenvolvido e importa continuar e melhorar, nomeadamente através da análise da realidade em grupos de trabalho, a informação tem um papel importantíssimo no esclarecimento e na dinamização das iniciativas sindicais.

De forma coordenada, temos de continuar a fazer a divulgação sempre actualizada das nossas actividades na nossa página e também através das redes sociais, que permitem formas de interacção entre os trabalhadores e as estruturas sindicais que as representam, tirando partido de formas criativas de comunicar, sempre em evolução e que é preciso acompanhar.

Com este objectivo, temos de optimizar todas as oportunidades, fazendo uso do nosso site, nomeadamente através do espaço ”Acção e Luta”, dos placares nas empresas e serviços e distribuindo comunicados, num relacionamento de proximidade com os trabalhadores, dando voz e visibilidade às suas reivindicações e direitos, construindo um clima de confiança, na base da força dos sindicatos, que deve ser claramente assumida quer frente ao patronato, quer perante os trabalhadores.

Informar, debat1er, esclarecer e mobilizar são objectivos sempre presentes, no âmbito da informação, da propaganda e da comunicação social, que temos de manter em reuniões e encontros, partilhando conhecimentos e experiências, delineando estratégias e promovendo a cooperação entre estruturas sindicais do Movimento Sindical Unitário que potenciem a unidade na acção – não esquecendo que a formação sindical é essencial nestas áreas.

Os trabalhadores e as suas organizações representativas merecem que as suas iniciativas tenham centralidade, porque no nosso horizonte estão as nossas justas reivindicações, as nossas lutas e as conquistas necessárias à valorização dos trabalhadores, ao trabalho com direitos e a uma vida digna – e não nos queiram dar por esmola aquilo que nos é devido por direito.

Por um sindicalismo unitário e de classe

Vivam os Trabalhadores

Viva a CGTP - Intersindical Nacional

Seixal, 23 de Fevereiro de 2024