salarios textilAs associações patronais do sector do têxtil, vestuário e calçado - que têm vindo a queixar-se da dificuldade de recrutar trabalhadores - propõem o valor de 580 euros (Salário Mínimo Nacional) para a totalidade dos trabalhadores das diferentes profissões e níveis salariais da produção. Aquele montante foi apresentado à federação dos sindicatos do sector (FESETE) nas negociações dos CCT - Contratos Colectivos de Trabalho, para 2018.

Sobre estas e outras razões que limitam a atractividade e o recrutamento de trabalhadores para o sector, a FESETE enviou hoje o seguinte comunicado à Comunicação Social:

A falta de atratividade dos Têxteis, Vestuário e Calçado para os jovens qualificados exige combater as verdadeiras causas para esta situação

Periodicamente somos confrontados com declarações do patronato do sector sobre a alegada falta de trabalhadores qualificados.

É preciso que o patronato nas suas declarações diga tudo, não omita propositadamente as verdadeiras razões e a sua responsabilidade na falta de atratividade destes sectores para os jovens e trabalhadores menos jovens qualificados.

São várias as razões que limitam a atratividade e o recrutamento de trabalhadores: a instabilidade e o rasto de desemprego deixado pelas multinacionais que entre 1990 e 2010 atiraram para o desemprego cerca de 214.000 trabalhadores, em alguns casos famílias inteiras. Muitos destes trabalhadores só encontraram solução pela via da emigração, pré-reforma ou mudança de sector de actividade.

A matriz de baixos salários que persiste e impera na lógica do patronato, tende a levar à miséria e ao aumento da exploração. Os salários trabalhadores destes sectores em 2015 situavam-se em media nos 586,42€, muito longe dos valores apregoados pelo patronato.

Mas quando se fala em médias existe o risco de fugir à dura realidade da maioria dos trabalhadores, isto porque na verdade uma larga percentagem em particular os da produção só ganham o Salario Mínimo Nacional ou um pouco mais do que isso. Estamos a falar de trabalhadores que no final de cada mês levam para casa líquido cerca de 495€.

Se os salários são pouco atrativos, o mesmo se passa com as carreiras profissionais as quais são pouco dignificantes das profissões dos trabalhadores. Os elevados e violentos ritmos de trabalho monótonos e repetitivos acompanhados de várias formas de assédio laboral, têm como consequência um elevado número de doenças profissionais, como as músculo-esqueléticas (tendinites) e psicossociais (stresse laboral). Uma parte significativa de mulheres a laborar na cadeia de produção só conseguem trabalhar tomando quotidianamente antidepressivos.

A tudo isto acresce a precariedade dos vínculos laborais; o patronato insiste no modelo de contratação por empresas de aluguer de trabalhadores, na rotatividade dos trabalhadores, numa linha de instabilidade permanente e de incerteza quanto a manter o emprego no futuro próximo.

Estes são os traços que caracterizam o emprego que temos e o que está a ser criado nos sectores pouco tem de atrativo. Mantêm-se as memórias de um passado recente de desemprego, instabilidade no presente e incerteza quanto ao futuro.

A FESETE considera que, com um modelo de organização do trabalho arcaico, desumano, pouco valorizador e nada dignificante, jamais o sector se tornará atrativo para os jovens qualificados.

Estamos a iniciar a fase de negociação dos Contratos Colectivos de Trabalho, CCT, para 2018 e até agora nada se alterou, mantem-se o modelo dos baixos salários e a intenção de aumentar os níveis de exploração através da retirada de direitos.

À nossa proposta de um salário mínimo para o sector de 600€, as Associações Patronais contrapõem o SMN, 580€, para a totalidade dos trabalhadores das diferentes profissões e níveis salariais da produção.

A FESETE considera que atendendo à realidade das empresas e do sector, é hora do patronato mudar de estratégia; é hora de distribuir justamente com os trabalhadores os resultados dos ganhos de produtividade que tanto têm apregoado; é hora do patronato acabar com esta prática de obtenção do lucro máximo à custa da pobreza e da instabilidade dos trabalhadores e das suas famílias.

A FESETE tudo fará para que a atratividade do sector se torne uma realidade.