BNP Paribas com lucros recorde tem de repor o poder de compraSituação BNP Portugal e perspectiva para 2024

Numa altura em que a vida interna do BNP Paribas tem sido objeto de atenção em notícias e artigos, observamos que os trabalhadores do BNP Paribas Portugal vêm, ao longo dos últimos anos, demonstrando um crescente descontentamento com a situação vivida no banco e no país. O aumento do custo de vida fruto de um aumento do custo da habitação, do custo dos bens essenciais, nas dificuldades de acesso à saúde, faz-se sentir também no setor bancário. O BNP tem vindo a aumentar a sua operação em Portugal, através da passagem de serviços para o nosso país, devido aos baixos salários por cá praticados e a falta de regulação do setor.

Por este motivo foi entregue, em Junho do ano corrente, um Abaixo Assinado com 1698 assinaturas, pelo SinTAF - Sindicato dos Trabalhadores da Atividade Financeira, com as seguintes reivindicações:

• Negociação do Acordo de Empresa que regule as relações de trabalho com direitos e deveres para ambas as partes;

• O aumento geral dos salários, repondo o poder de compra perdido com a inflação, e no mínimo 150 euros;

• Negociação de uma carreira com progressão automática que valorize a antiguidade;

• Redução do período normal de trabalho para 35 horas semanais (como a restante banca);

• Garantia de um seguro de saúde que cubra todas as situações de doença sem custos;

• Fixar o salário para que ninguém ganhe menos que 1500 euros.

Este abaixo-assinado surge de um plenário organizado pelo SinTAF em que os trabalhadores presentes aprovaram a moção que estabelecia as reivindicações nela contidas.

Apesar de uma postura aparentemente aberta, e embora tenha aceite reunir com o SinTAF, no seguimento do abaixo assinado, o BNP Paribas recusou-se a responder às necessidades dos trabalhadores, pondo de parte a possibilidade de um aumento extraordinário de salários já em 2023, justificando-se com os aumentos efetuados no CRP (período anual em que são — possivelmente — aumentados os salários e atribuído um bónus a cada trabalhador, aumentos e bónus discricionários não se sabe qual a base para estas decisões), o SinTAF foi abordado por diversos trabalhadores descontentes com esta forma de "valorizar" os trabalhadores.

Um ano em que o BNP Paribas tem lucros recorde em todos os trimestres e que vai inaugurar um novo edifício em Portugal, não se perspectiva melhores condições para o ano de 2024.

1300 trabalhadores do BNP reuniram-se agora, em mais um plenário, organizado pela Comissão de Trabalhadores do BNP, onde o SinTAF também marcou presença.

As reivindicações aprovadas por estes trabalhadores convergem com a luta dinamizada  pelo SinTAF e inscrevem-se num processo de crescente descontentamento com a SINTAF situação laboral no BNP Paribas. É por isso da maior premência intensificar o trabalho de proximidade nos locais de trabalho, auscultar os trabalhadores e continuar ao seu lado.

É urgente revogar a caducidade da contratação coletiva, e negociar um Acordo de Empresa por forma a promover a estabilidade; o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho optando pela semana de trabalho de 35h; e garantir a valorização de quem produz os lucros recorde que a banca anuncia a cada trimestre.

Um Acordo de Empresa que inclua apoios no crédito à habitação, como é prática habitual no setor bancário, especialmente tendo em conta o flagelo que decorre do brutal encarecimento da habitação no nosso país.

É de notar que existem atualmente Acordos de Empresa, assinados por outros sindicatos, que não descortinaram problemas em empurrar milhares de bancários para urna situação diferenciada e objetivamente desfavorável em comparação aos bancos já estabelecidos em Portugal. De facto, esses acordos estabelecem a semana de 40 horas e uma progressão de carreira residual, ao contrário do restante setor. Os trabalhadores do BNP Paribas, já são mais de 8000, precisam de um sindicato forte e que contribua para a melhoria das condições vida e da valorização do seu trabalho.

Da luta dos trabalhadores do BNP Paribas sai reforçado o sentimento de certeza de que é urgente e necessário investir no nosso Serviço Nacional de Saúde: só assim é que nós trabalhadores podemos garantir o nosso acesso à saúde de qualidade; só assim podemos garantir acesso à saúde sem abdicar da nossa liberdade de afiliação político-sindical.

A política salarial do Banco é, cada vez mais, a criação de um barril de pólvora na organização, com a existência de "promoções" a líder de equipa, sem aumento base, sendo apenas atribuído o subsídio de isenção de horário. A isto soma-se a contratação de novos trabalhadores com salários superiores aos colegas com mais antiguidade, visto que estes têm tido (ou não) fracos aumentos na revisão salarial anual (em contramão com os lucros astronómicos do Grupo), tendo estes ainda a tarefa de os treinar, o que cria uma situação frustrante para todos os trabalhadores.

Não são poucos os que se confrontam com a decisão de fazer mais umas horas de trabalho em part-time para conseguir chegar ao fim do mês; ou horas extra que vão encobrindo a falta de trabalhadores em muitas funções, consequência da grande dificuldade em reter e atrair quadros, dado que é cada vez mais difícil aos gestores do BNP tapar o sol com a peneira.

Por isso, é urgente lutar por um aumento geral dos salários em não menos que 150€ e por um salário no mínimo de 1500€, para todos os trabalhadores do BNP Paribas e do setor bancário.

Como sempre, os nossos dirigentes e associados no BNP Paribas estarão presentes diariamente, no contacto profundo e produtivo da realidade dos trabalhadores da empresa de forma a melhor defender os seus interesses.

Fonte: SINTAF