É com profunda tristeza e consternação que a CGTP-IN informa do falecimento de Daniel Cabrita, dirigente sindical e incansável lutador pelos direitos dos trabalhadores, que deu uma importante contribuição para o reforço do Movimento Sindical Unitário.

Daniel Isidro Figueiras Cabrita nasceu em 1938, no Barreiro, onde cresceu e sempre viveu. Desde cedo contactou com a resistência anti-fascista. Tornou-se militante do PCP no início da década de 60, tendo participado activamente na luta clandestina contra a ditadura fascista, até Abril de 1974. Cedo começou a ter actividade sindical (no Banco Totta, onde estava empregado).

Activo na Oposição Democrática ao regime fascista, destacou-se sobretudo como dirigente sindical, desde finais da década de 60, após a conquista das direcções dos “Sindicatos Nacionais (corporativos e afectos ao regime)” aos fascistas. É eleito pelos trabalhadores como Presidente da Direcção do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas em 12 de Março de 1968, mas a posse só ocorreu em Janeiro de 1969, dada a imposição de homologação ministerial. Foi preso em Maio de 1969 sendo libertado pouco tempo depois.

Em Outubro de 1970, fez parte da fundação da Intersindical Nacional, cujos sindicatos se batiam pela satisfação de reivindicações que levaram o regime a ter uma atitude de perseguição e de violência contra os seus dirigentes sindicais.

Daniel Cabrita foi reeleito para a direcção no cargo de 1.º secretário, em Março de 1971, mas em 30 de Junho de 1971 foi preso pela PIDE-DGS durante as férias, em Sesimbra, e acusado de pertencer ao Partido Comunista. Foi submetido a várias torturas (inclusive tortura do sono), julgado em Tribunal Plenário e condenado. Esteve preso até 30 de Junho de 1973, em Caxias e em Peniche. A sua prisão desencadeou uma enorme onda de protestos e solidariedade, não só a nível nacional, como internacional, por exemplo da CGT francesa ou a CGIL italiana. Saiu da prisão em Junho de 1973, impedido de exercer actividades sindicais, voltou ao Banco onde trabalhava e nunca deixou de agir e intervir nas lutas sindicais.

Depois do 25 de Abril, integrou os gabinetes dos Ministros do Trabalho dos primeiros Governos Provisórios, Avelino Gonçalves e Costa Martins. Foi candidato às eleições para a Assembleia Constituinte pelo MDP (1975), e às legislativas de 1980, em representação do PCP, ambas pelo Círculo de Setúbal.

Voltou a entrar na Intersindical em 1976 e apoiou a direcção da Intersindical na organização do Congresso de Todos os Sindicatos. Integrou a Comissão de Honra do 4.º Congresso da CGTP-IN. Manteve-se na Intersindical até 2008, como adjunto do Secretário-geral e no Gabinete de Estudos da Intersindical.

Foi membro da Assembleia Municipal do Barreiro, eleito pelo PCP/CDU, durante diversos mandatos. Foi dirigente do Cine Clube do Barreiro de 1963 a 1965.

Em 1980, por ocasião do 10º aniversário da CGTP-IN, participou no debate "Sindicalismo ontem e hoje", sobre a fundação da Intersindical e o seu papel na defesa dos trabalhadores e da democracia.

Em 2011 é um dos sindicalistas do fascismo que dá o seu testemunho na obra «Contributo para a história do movimento operário e sindical», um livro editado pela CGTP-IN por ocasião do seu 40.º aniversário.

Em 2014, por ocasião das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, a Câmara Municipal do Barreiro homenageou Daniel Cabrita juntamente com sete outros resistentes antifascistas do Barreiro.

Em 2021, no âmbito das Comemorações 50º Aniversário da CGTP-IN, participou no debate “CGTP-IN — Das raízes à actualidade, sindicalismo do presente para o futuro”, na Casa do Alentejo, em Lisboa.

Neste momento de dor e pesar, a Direcção da CGTP-IN, endereça a mais sentida solidariedade à família e aos amigos do camarada Daniel Cabrita e prestando-lhe a justa homenagem, reafirma o compromisso, que também era o dele, de prosseguir a luta por um Portugal assente no projecto e nos valores de Abril, por uma sociedade sem classes, sem exploradores nem explorados.

Até sempre camarada.

 

Nota: assim que possível, informaremos sobre as cerimónias fúnebres.

DIF/CGTP-IN
12.03.2025